Considerações Sobre a Gratidão

Dedico esse artigo à minha amiga e vizinha, com quem tenho compartilhado muitos risos e também, momentos de desconforto no lugar em que estamos vivendo atualmente...

“Se você não é grato, exceto quando as coisas dão certo, você é negativo.”

“Então como é que, quando coisas boas acontecem, elas são um resultado do que você faz, mas quando coisas ruins acontecem não são culpa sua? Ninguém gosta de ouvir isso. É preciso coragem para aceitar que você cria a sua experiência de vida!”

A gratidão é uma virtude... e como toda virtude, exige de nós um alto grau de disciplina e desprendimento. Também coloca-se à nossa frente como uma prova de força e determinação.

Sim, porque é preciso força e determinação para vencer o orgulho e o preconceito residente em nós, para agradecer  com humildade, seja o que for que esteja acontecendo em nossa vida.

Agradecer às bênçãos é fácil... agradecer as adversidades, é outra história e está em um outro nível de desenvolvimento, principalmente porque nos é difícil reconhecer que as adversidades não caem do céu... são sementes plantadas por nós mesmos...

Sendo assim, somos falhos em nossa gratidão e hipócritas em nossa humildade, porque sempre agradecemos as dádivas e nos julgamos merecedores das bênçãos recebidas, mas se algo desagradável se coloca em nosso caminho como um obstáculo, ou uma pedra que nos faz tropeçar, insurgi-mo-nos e culpamos alguém ou alguma coisa ao nosso redor, como se fôssemos isentos de cometer equívocos...

Embora custe-me alguns arranhões, devo reconhecer que as adversidades são as lições na escola da vida, que testam o nosso mérito... isso não tem como negar...

Por outro lado, ainda defendo a ideia de que miséria demais não leva ninguém a lugar nenhum... apenas faz com que a pessoa desanime e afunde na areia movediça da desesperança...

No entanto, sempre consideramos que as adversidades são apenas obstáculos à nossa felicidade, são castigos injustos que sofremos por deslizes que jamais reconhecemos, ou apenas uma “fatalidade” causada por desafetos invejosos ao nosso redor.

Talvez a última perspectiva tenha algum cunho de veracidade, mas, se existem pessoas capazes de nutrir desafetos por nós, que estão em nossa vida, não seria por nossa própria escolha?

Existe uma sensível diferença entre manter as pessoas à distância ou permitir que elas entrem em nossa vida.

Existe uma sensível diferença entre a educação polida do “bom dia – boa tarde” e o contato mais próximo diário à nossa porta ou dentro da nossa casa.

Definitivamente existem situações nas quais nos envolvemos de forma negativa, criando um fluxo de energia negativa ao nosso redor... isso se chama, “baixar a guarda”... invigilância...

Quando agimos ou reagimos com revolta, animosidade, desprezo, com o ânimo exaltado, estamos sendo invigilantes...

O mundo ao nosso  redor parece  injusto, caótico, asqueroso e a vida cruel... isso é baixar a guarda...

Todos sabemos que a situação espiritual do mundo é instável, e eventualmente, somos aconselhados  a olhar o mundo com olhos de compaixão, mas ainda não desenvolvemos essa capacidade placidamente... e sendo assim, a nossa recusa nos parece racional e natural... estamos apenas trilhando o caminho contrário com tais recusas...        

A resposta está  o tempo todo bem a nossa  frente... bem dentro do nosso coração... o caminho sempre está dentro do nosso coração... –  então porque nos distanciamos tanto dele?

Simplesmente porque queremos que nossos caprichos sejam atendidos, da maneira e na hora que queremos... e dessa forma acabamos por nos aproximar dos modelos comportamentais que criticamos e abominamos.

A verdade dói... mas eu ainda prefiro a verdade... amarga, cruel... porque é a verdade que constrói em mim o Ser que eu quero ser...

Quando  simplesmente nos  recusamos  a olhar com olhos de compaixão... acabamos  pagando o preço da própria  recusa...

É preciso saber confiar e aquietar o próprio coração, sem o que, corremos o risco de assumir os comportamentos que criticamos... sim, porque seria um tanto hipócrita não assumir que também criticamos comportamentos alheios que nos desgostam, mesmo que seja uma crítica muda...

Mas, como confiar em um momento crítico em que parece que nada acontece?  Vem  o ceticismo, a incredulidade, a falta de confiança...

Se houvesse em nós algum resquício de verdadeira gratidão, não teríamos tantas dúvidas sobre as escolhas que devemos fazer acerca das coisas mais básicas em nosso cotidiano.

A gratidão é como um chazinho de camomila - >.< - acalma os ânimos...

Contudo, nunca somos abandonados à própria sorte, e nem mesmo as pessoas que consideramos que agem de forma animalesca, são abandonadas à própria sorte...

Eventualmente, somos obrigados a admitir que também queremos  privilégios... mas no plano espiritual não existem privilégios, existem  MÉRITOS... é simples assim...

Não funciona como no mundo material... e isso já foi dito de outra forma em outro artigo deste blog... simples assim...

Óbvio que essa perspectiva não encerra a questão... mas contribui para o degrau seguinte...

As frases iniciais acima citadas, apenas me confirmaram o que eu já sabia no meu coração, e que me fora dito de outra forma, há mais de 30 anos atrás...

“Devemos aprender a agradecer as pedras em nosso caminho...”

No dia que me disseram isso, eu saí do lugar revoltada... reconheço...  e recusei-me a sequer pensar no assunto...

Hoje, tantos anos mais tarde, diante da situação que está acontecendo no lugar em que escolhi viver, que me foi dado pelo plano espiritual, sem que eu entendesse exatamente porquê, sou obrigada a reconhecer a sabedoria do ensinamento acima...

Mas, só pra variar um pouquinho, nós, pessoas que nos julgamos no caminho do esclarecimento, ainda não conseguimos aceitar com gratidão as pequenas contrariedades da vida, nem os conselhos que sabiamente vem da espiritualidade superior...

Passaram-se os anos e se eu tivesse atentado à mensagem do ensinamento, certamente não estaria vivenciando certo grau de dificuldade nos dias atuais... mais especificamente, ESTE grau de dificuldade...

“Quando você pensa que tudo é culpa de alguém, você vai sofrer muito. Quando você percebe que tudo nasce apenas de si mesmo, você vai aprender a paz e a alegria. “

 Dalai Lama

A vida não é mera obra de arte para a satisfação dos egos... a vida é, de fato, uma escola... e nem sempre somos afetos às lições que nos são propostas...

Tudo é uma questão de aprimorarmos nossos sentimentos, elevarmos nossos pensamentos e exercitarmos o conhecimento que adquirimos a fim de que nos tornemos pessoas mais sábias...

A gratidão é sem sombra de dúvida, um degrau importante a ser galgado na espiral da evolução...